Nos últimos anos, muito tem sido dito sobre propósito, e na maioria das vezes associado exclusivamente à vida profissional. Mas o que a maioria das pessoas não sabe é que propósito é muito mais que isso. Propósito é o que trazemos para o mundo como a nossa contribuição, é a expressão da nossa forma única de Ser e da nossa missão de vida. O trabalho, assim como as outras áreas da vida como relacionamentos, família, saúde, espiritualidade, para dar alguns exemplos, pode ou não estar alinhado com o nosso propósito e o sentimento que revela isso é uma forma de vazio.
O que quero dizer com isso é que assim como uma grande insatisfação profissional, uma demissão, a perda de um ente querido, uma mudança de país, pode te fazer questionar se as suas escolhas têm te distanciado do seu propósito. A maternidade também pode trazer essa revelação. Quando eu digo maternidade incluo aqui inquietações que aparecem junto do desejo de gestar e dificuldades de engravidar, podem já trazer a centelha de uma grande transformação necessária para se seja possível a concretização da maternidade. Mas isso é assunto para outro artigo.
E por que a maternidade pode nos mostrar que pegamos um caminho que nos afasta de quem realmente somos e do que viemos fazer aqui?
Porque a maternidade é um portal de consciência do feminino.
Antes que alguém entenda que estou dizendo que toda mulher tem que se tornar mãe para acessar o seu propósito de vida, quero esclarecer que não é disso que se trata. O que todas nós mulheres trazemos nos nossos úteros é a capacidade de criar, manter e nutrir o que quer que seja – filhos, projetos, carreiras, empresas, ações sociais e comunitárias, ativismo, atuação política – e isso sim pode ou não ser consonante com o nosso propósito. Sei que colocar filhos nessa lista pode ser polêmico, mas acredito que filhos deveriam ser idealmente frutos de decisões conscientes.
Voltando ao portal da maternidade, o que acontece quando gestamos e colocamos no mundo outro ser humano é que acessamos a força criativa feminina em uma intensidade muitas vezes desconhecida por nós mesmas até aquele momento. E isso por si só tem um potencial de transformação extraordinário. Ao nos conectarmos com esse poder de criar que vive dentro de nós, compreendemos que podemos recriar a nossa própria vida.
Além disso, a maternidade traz um convite para que todas nós possamos revisitar a forma como nós fomos “maternadas”. O puerpério faz isso com intensidade, mas esse é um presente perene da conexão com os filhos. Esse movimento muitas vezes é doloroso, pois acessamos por meio dos nossos filhos sentimentos de desamor, rejeição, desamparo e repressão que nem sempre temos consciência que vivenciamos. Laura Gutman nos conta de um fenômeno que chamou de fusão emocional, quando mãe e filho estão na “mesma piscina emocional” e compartilham sensações, sentimentos e emoções. Quando entramos nessa fusão emocional podemos reencontrar muitas partes perdidas do nosso Ser Essencial. Reencontrar aquela que éramos antes dos choques que inibiram a expressão do nosso propósito, a nossa espontaneidade. Mas não há garantias para que isso aconteça; é preciso estarmos dispostas a seguir adiante, por mais difícil que o caminho de volta possa ser, e bem acompanhadas para decodificarmos tanto conteúdo que emerge das sombras.
E por que estar emocionalmente de volta a nossa infância pode nos ajudar a relembrar nosso propósito? Porque lá éramos potencial puro! Sabemos que até o início da adolescência nós temos a visão clara do que viemos fazer aqui: temos um anseio forte e sonhos que expressam nosso propósito, mas aos poucos vamos nos esquecendo e passamos a crer em vozes externas que desacreditam e julgam nossos sonhos e nossa capacidade de realizá-lo. E passamos a viver nossa vida pautadas pelos sonhos dos outros e distantes de nós mesmas.
Tomar consciência da criança que fomos é fundamental para nos ajudar a entender as crenças e condicionamentos limitantes que a adulta que somos traz e o que nos impede de expressar nosso propósito. E nossos filhos nos mostram isso todos os dias, só precisamos olhar com os olhos de quem quer ver.
Finalmente, outra mudança que pode ser trazida pela maternidade é a reconexão com a qualidade intuitiva que todas temos. É como se ao nos tornarmos mães, a voz do nosso coração, a chamada intuição - uma união entre pensamento, sentimento, raciocínio e instinto - voltasse a falar mais alto dentro de nós. Quem nunca se surpreendeu com o sexto sentido da própria mãe?!
É importante ressaltar que nós, mulheres contemporâneas e urbanas, temos muita dificuldade de ouvir nossa intuição. O pensamento racional, concreto e pragmático tem sido a prática mais usual para o sucesso no mundo patriarcal. Entretanto, o nosso propósito não será revelado pela nossa mente, mas pelo nosso coração, o lugar onde acessamos o Amor. Já foi dito que a essência de todos nós humanos é o amor, que pode ser manifestado de infinitas formas, já que cada um traz seus dons e talentos para que possamos expressá-lo. O exercício é como encontrar uma estação no dial do rádio: sintonizar na frequência do coração para compreender a nossa missão de vida. Em outras palavras é sobre como viemos colocar o amor em movimento nesse mundo.
A AUTORA
Raquel Carlesso, Quel Carlesso, como gosta de ser chamada, é mãe e mulher que atualmente dança a vida em Belo Horizonte. É graduada em Relações Internacionais e mestre em Métodos de Pesquisa Social pela London School of Economics (LSE). Iniciou a sua busca pela cura do feminino com um diagnóstico de infertilidade e descobriu assim o seu propósito de vida: ajudar mulheres a gestarem uma nova vida a partir da conexão com seu feminino e propósito. Ainda gestante abandonou a carreira de executiva de sustentabilidade e se tornou Gineterapeuta, dedicando-se a atender mulheres em busca de si mesmas e suas potencialidades femininas.
Criadora do Método Mulher Inteira – Conexão, Propósito e Maternidade, uma mentoria individual para mulheres com dificuldade de engravidar e para mulheres em busca do seu propósito depois da maternidade. Focalizadora de workshops em grupo no Método Mulher Inteira.
É facilitadora de Propósito e Prosperidade associada à Florescentia. Terapeuta dos Florais da Lua, Terapeuta Tântrica para mulheres formada por Prem Samit e facilitadora dos Círculos e Encontros Yoniversum - Despertando Shakti. Aluna da Laura Gutman na formação em Biografia Humana. Cursou Psicologia do Puerpério pelo Instituto Aripe. Atende com o ritual do Divino Pós Parto.
Peregrina, buscadora, estudiosa dos mistérios feminino, da fitoterapia para saúde das mulheres e dos saberes ancestrais. Trilha o caminho do autoconhecimento há mais de 15 anos, é uma Mulher Inteira em frequente construção e reconstrução, uma heroína da sua própria jornada.
Instagram: quelcarlesso_mulherinteira
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