A pediatra e neonatologista Vânia Gato publicou em seu instagram uma série incrível detalhando cada um dos Mistérios do Recém-Nascido. Sempre bom saber mais sobre os pequenos desafios que acompanham a chegada dos bebês ao mundo. Será que é normal? Quanto tempo demora para passar? O que fazer?
Acreditamos que algumas destas respostas podem ser encontradas nesta série.
Soluços
Os soluços estão presentes em 80% dos bebês e são mais frequentes até os seis meses de vida. Isso ocorre pela irritação ou estimulação do músculo diafragma, que ainda é imaturo.
Eles surgem e desaparecem de forma repentina e não costumam causar dor ou incômodo no bebê. Se você tem um RN, irá conviver muito com os soluços nesse primeiro mês. Melhor aceitar ;)
Fatores como mudança de temperatura e ingestão muito rápida ou excessiva de leite ou ingestão de ar durante a mamada provocam aumento dos soluços. Alguns bebês precisam arrotar antes de trocar de peito, em geral eles estão agitados na mamada e se empurram para trás. Em caso de alimentação na mamadeira, evitar a posiçao deitada, observar entrada de ar durante a sucção e colocar o bebê para arrotar com mais frequência.
Sempre quando vocês estiverem diante de um bebê com soluço, façam a pergunta: "quem está mais incomodado? Eu ou o bebê"? Se for você, vai se distrair, fazer outra coisa, desencana, esse soluço é fisiológico 😅. Se for o bebê, algumas dicas abaixo podem fazer com que melhore:
- Mudar o padrão respiratório do bebê melhora o soluço: colocar pra mamar no peito, na posição de bruços ou tentar fazê-lo arrotar trazem bons resultados
- Evitar mudanças bruscas de temperatura na hora da troca de roupa do bebê.
Para os maiores:
- Não fazer ingestão de água durante as refeições, isso provoca distensão abdominal e consequentes soluços
- Aumento dos níveis de gás carbônico: pode-se pedir para a criança prender a respiração por alguns segundos ou ingerir agua com o nariz tampado.
- Susto funciona, mas não é indicado.
Caso o bebê chore muito durante o soluço ou crianças maiores tenham soluços persistentes e incômodos, procure seu pediatra.
Perguntinha final: o famoso algodão na testa funciona? Não tem comprovação científica, mas quem nunca...?!
Água no ouvido
Uma questão muito frequente quando se fala do banho do RN e bebê é sobre proteger o ouvido da água. Percebo que há um exagero nesse cuidado. Vamos pontuar algumas coisas:
- Sempre ouvimos dizer que entrar água no ouvido dá infecção. O que dá infeção de ouvido são microorganismos como vírus, bactérias e fungos. O nome desse tipo de otite é otite externa, pois acomete a primeira parte do ouvido (pavilhão auditivo e conduto auditivo)
- Na verdade, a exposição em excesso do ouvido em águas contaminadas (piscinas, praias,etc) dissolve a cera, que é uma importante barreira de defesa, e aí a pele fica desprotegida e sujeita a lesões, que funcionam como porta de entrada para microorganismos.
- Outro importante fator de risco é a limpeza interna com cotonetes e algodão e também lesões decorrentes de coceira. Novamente a pele fica desprotegida tanto pela remoção da cera quando pelas lesões de coçadura e limpeza.
Podemos concluir que, se você não faz nenhuma das coisas acima no seu bebê, não tem problema nenhum em dar o banho tranquilamente!!! Lembre-se que o bebê ficou a gravidez inteirinha dentro d'água e está tudo bem. Além disso, eles possuem barreira de cera para proteção, que não deve ser removida.
💧Esqueça esse asunto de água no ouvido
💧Quando acabar o banho seque a parte de fora com a toalha e só.
💧Jamais enfie cotonete ou algodão dentro do ouvido
💧 Não precisa proteger os ouvidos no banho como rotina. Inclusive o bebê pode tomar banho com os ouvidos imersos na água se a família tiver segurança.
💧 A otite mais frequente em bebês é a média, causada pelos mesmos germes em docorrência de complicação de resfriados, uso de mamadeiras, mamar na mamadeira deitado, pais fumantes, presença de outra criança na mesma casa, prematuridade. Nada a ver com água!!!
Unhas
Bebê já nasce de unha comprida, né?! E aí já começa a se arranhar nos primeiros dias de vida, os pais ficam aflitos mas também tem medo de cortar errado, machucar o bebê, e acabam colocando luvinhas. Então, vamos as dicas:
- Não usem luvas no bebê!!!!!! Bebês têm as extremidades mais frias, isso é normal e esperado.
- As unhas do RN são muito molinhas e esses arranhões duram poucas horas na pele. Dentro da barriga isso já acontecia e a gente não tava nem aí.
- Lixa de unha: é bem legal, mas muito cuidado, vc pode acabar lixando o dedinho do bebê. Tem que ser uma lixa macia e a unha tem que estar comprida o suficiente pra conseguir lixar
- Tesourinha/cortador: a mesma coisa, a unha tem que estar minimamente comprida para evitar beliscar a pele do bebê.
- Ao cortar, sempre cortar reto e lixar as pontinhas, nunca cortar curvado, pois a unha pode encravar.
- Bebê tem as unhas do pé enterradas mesmo e é uma dificuldade. Não mexa nos cantinhos, só corta reto e lixa a lateral.
- Nos primeiros dias, vamos aceitar as unhas do bebê e deixar que ele tenha acesso às mãos. Não separe os melhores amigos. As mãos são a referência dos bebês, dão conforto e acalmam.
- Já na primeira semana a gente consegue lixar ou cortar as unhas. Não fiquem aflitos. Às vezes dá até pra tirar com a mão, de tão molinha que a unha é.
- NÃO É PRA ROER AS UNHAS DO BEBÊ!! A boca é um lugar mega contaminado e isso por causar infecção.
Umbigo
Cuidar do umbigo é algo muito simples. Mais simples que fazer arroz. Mais simples que ovo cozido.
Vamos lá:
Ingredientes:
- 1 adulto
- 1 bb
- Álcool 70%
- Cotonete
Passe álcool 70% no cotonete e “pinte” a geléia do umbigo em toda a sua extensão.
Repita a operação 3x ao dia.
Lembrete importante: o bebê não sente dor, mas sente o geladinho do álcool na pele.
O que não fazer:
❌ Limpar toda hora: não precisa, quando mais o umbigo ficar úmido, mais demora pra cair
❌ Fazer curativo ou usar faixa umbilical: não precisa disso
❌ Assustar com o sanguinho que sai: é um sangue velho, só limpar e pronto
❌ Ter medo de arrancar o umbigo: não vai acontecer, não precisa ter aflição.
Portinha
Vocês já repararam que o bebê faz uma série de barulhos misteriosos?
Pois é! Vamos falar desse som muito peculiar do bebê se espremendo, se retorcendo?
Parece uma porta velha. Por isso, uma amiga apelidou esse som delicadamente de “portinha”. O bebê faz portinha porque está aprendendo a fazer cocô e soltar pum. Isso dá um incômodo danado e podemos ajudar fazendo massagem, compressa morna, segurando o bebê de bruços barriga-com-barriga, usando sling, enfim. É um ruído muito peculiar dessa fase e irá durar pelo menos 2-3 meses, mas é mais intenso no primeiro mês. Tem dias piores e dias menos piores, mas todos os dias tem a hora da portinha. Isso não é exatamente a cólica do lactente, é um desconforto causado pelos gases e pela imaturidade intestinal do bebê em soltá-los. Lembre que podemos ajudar com medidas de alívio, mas que esse é um desafio do corpinho do bebê e que faz parte passar por ele. Com muito colo e carinho qualquer fase difícil fica mais confortável, né?!
Vânia Gato IBCLC @sospediatra
Pediatra e Neonatologista
🤱🏽 Aleitamento materno
👶🏻 Recepção humanizada RN
👩🏻🏫 Professora e palestrante
👩🏻⚕️ CEO da @lumoscultural
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